FITEI: Um palco do tamanho do Mundo


Consagrados e emergentes voltam a marcar presença, ao longo dos próximos dias, num encontro que sempre fez do confronto de estéticas a sua principal linha de força. A presente edição - a 33ª - não foge à regra, ao apresentar propostas que tanto abarcam o reportório clássico como o contemporâneo. De Tchekhov a Beckett, sem esquecer Handke e Dario Fo, o FITEI - Festival Internacional de Expressão Ibérica - proporciona mais uma vez a possibilidade de o público aprofundar o conhecimento da obra de autores fundamentais da dramaturgia universal. Mas nem só de nomes incontornáveis se tece a urdidura deste festival. A abertura far-se-á com "Hnuy Illa", espectáculo que tem por base a obra do controverso escritor e filólogo basco Joseba Sarrionandia, quase desconhecido em Portugal. A peça tem a assinatura de duas companhias do País Basco, Kukai e Tanttaka, e procura transmitir, com recurso à poesia e dança, a sensação de exílio e necessidade de demanda fortemente presentes nos escritos de Sarrionandia. Três estreias absolutas. Com sete companhias cada, Portugal e Espanha são os países mais representados no programa. Mas regista-se também a presença de estruturas teatrais oriundas de paragens bem mais longínquas, como Canadá, Chile, Moçambique e Angola, a par da Itália, França e Reino Unido. Uma das principais apostas para a edição deste ano recaiu na dança. Não só devido à valia das propostas, mas também porque "há um défice de programação de dança no Porto", como sublinhou, na apresentação, o director do festival, Mário Moutinho. Também os espectáculos ao ar livre conhecem um forte incremento. O arrojo destes projectos vai muito além do simples local onde são apresentados: a intervenção directa no espaço urbano chega ao ponto de existir uma ocupação artística de espaços emblemáticos da cidade. Prova disso mesmo são as incursões do Teatro Gestual do Chile em locais como a Praça Almeida Garrett, Estação de Metro da Trindade ou Rua das Carmelitas. Estreias absolutas há três, todas nacionais. As Visões Úteis escolheram uma sala de hotel (o Dom Henrique) para apresentar "Comissão", reflexão bem humorada sobre os turvos mecanismos de decisão; o Teatro do Frio observa em "Utópolis" (na Praça Parada Leitão) os elementos estranhos à realidade quotidiana e, por fim, João Garcia Miguel/Ao Cabo Teatro basearam-se na obra de Peter Handke "Kaspar" para apresentarem, no Teatro Carlos Alberto, no Porto, "Filho da Europa". Nascido no Porto, o FITEI não se confina agora aos limites territoriais desta urbe. Além das extensões que vão percorrer o país, o programa chega também a Matosinhos, cidade escolhida para o encerramento, em dose tripla, nas imediações do Cine-Teatro Constantino Nery.

Comentários

Mensagens populares