Porto, 31 de Janeiro de 1891


A revolta republicana do Porto de 31 de Janeiro de 1891 vista por João Chagas. «Terminará toda essa longa e fatigante expectativa. Com fundamento, ou sem fundamento, a afirmação de que o regimento d’infantaria 18 em breve se incorporaria nas forças sublevadas passava de boca em boca, e, em harmonia com esse boato, foram essas forças, Rua do Almada a baixo, em direcção á Praça de D. Pedro. Ai ocupariam o edifício dos Paços do Concelho, onde se faria a declaração da deposição do rei e a de que estava proclamada a Republica. Efectivamente, o capitão Leitão, tendo feito formar na testa da coluna a Guarda-fiscal e, seguidamente e por sua ordem, os regimentos de caçadores nº. 9 e de infantaria nº. 10, mandou marcharem. A banda, quase completa, do regimento d’infantaria nº. 10, com alguns músicos de caçadores nº. 9, sob a direcção do musico de 1ª. Classe d’infantaria nº. 10, Eduardo da Silva, abria a coluna, tocando a Portuguesa, de Alfredo Keil. Desde que as forças começaram a marchar, sentia-se desaparecer a opressão que invadira todos os espíritos n’essas longas três horas em que, ou fora ou dentro do quartel, se tentara que o regimento d’infantaria nº. 18, devidamente comandado, viesse aumentar as forças da Revolta. O que se seguiria depois, parecia não preocupar os espíritos. Acreditava-se firmemente que o regimento d’infantaria nº. 18 Estava inclinado a apoiar a Revolta. Se assim fosse nenhuma duvida poderia oferecer o triunfo da Republica; não porque a força do regimento d’infantaria nº. 18 Desse ás tropas insurreccionadas uma superioridade notável sobre as da Guarda Municipal, mas pela alta significação que teria, não só para a população civil, mas para o Quartel-general, o facto de as tropas sublevadas serem comandadas por um coronel e muitos oficiais. Era evidente que, se esse acontecimento viesse a realizar-se, as adesões seriam inumeráveis. Ninguém teria dúvidas em aceitar os factos consumados; as garantias de vitória eram indiscutíveis; a resistência da Guarda Municipal seria nula, sem contestação; a ordem estava assegurada. Animadas d’uma doce esperança, as tropas revolucionárias, ladeadas por imensa multidão, seguiram para a Praça de D. Pedro. Rompia a manhã. Ao longo da Rua do Almada, desfilava a coluna em formação regulamentar e disciplinadamente. As janelas estavam todas abertas e os habitantes que já tinham conhecimento de que a guarnição militar da cidade sahira dos quartéis para proclamar a Republica, recebiam a notícia com manifesto aprazimento. E assim, á medida que as forças da Revolta iam descendo a rua, ás saudações que erguia o povo que as acompanhava, correspondiam as janelas, gritando: − Viva a Republica! − Viva o exército português! − Acenavam com lenços, davam palmas, n’uma grande expansão de alegria que punha nos corações um suavíssimo calor e nos lábios um sorriso de triunfo. Nunca tão espontânea e tão calorosa manifestação se produziu na bela cidade do Norte. Nunca o Porto, a cidade do trabalho e das grandes virtudes cívicas, fez tão entusiástica aclamação a um exército vitorioso, porque nunca esteve mais identificado com a ideia que esse exército vinha proclamando.

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