Entrevista a Teresa Calçada


Teresa Calçada é licenciada em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Foi Técnica do Instituto Português do Livro entre 1982 e 2007, onde integrou o grupo de trabalho que definiu as bases da política nacional da leitura pública, com vista à criação da Rede de Bibliotecas Municipais. Foi vice-presidente do Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro, até 1996. É comissária adjunta do Plano Nacional de Leitura e Coordenadora das Redes de Bibliotecas Escolares. No início deste ano-lectivo, a revista Livros & Leituras quis conhecer a opinião de Teresa Calçada relativamente aos livros, às leituras e aos leitores.

Livros & Leituras - Como é possível gerir as relações entre a biblioteca, o livro e, agora, a era da informática?

Teresa Calçada - É uma relação obrigatória. Portanto, temos de encontrar formas de fazer conviver as diferentes ferramentas que levam ao saber e ao conhecimento. E hoje é impensável que não se faça isso utilizando as tecnologias do conhecimento, na era em que nós vivemos, das quais faz parte, também, o livro. É uma história de contradições como foi entre a fotografia e a pintura ou entre o cinema e a televisão. As coisas têm em si próprias a sua contradição, e aqui também. As tecnologias têm bondades e maldades. É preciso que se ensine, de algum modo, a ler os media, a usar as ferramentas, como a internet, os blogs, o twitter, trinta mil coisas que, muitas vezes, criam a ilusão de saber. E é preciso levar os mais novos, em particular, a perceber que esse instrumento é funcional, é uma utilidade ao nosso serviço e que se pode ser pobre, remediado ou rico no uso de todas as tecnologias do saber, desde o livro às designadas novas tecnologias. Não deixa de haver contradição, são coisas que vão conviver, como sempre aconteceu ao longo dos tempos. Há alguns aspectos que se perdem porque nem tudo é progresso. Por exemplo, um aspecto interessante é a facilidade com que se confunde uma ligeireza da imagem, uma ligeireza de um texto que se copia e cola e se faz um remendo e perde a autoria. Tudo isso é o perigo de uma imensa incapacidade de saber ler de uma maneira que não seja hipertextual, fragmentada e, no entanto, nós vivemos hoje num tempo cuja complexidade literácica é ainda maior. Hoje é ainda mais difícil ser letrado porque temos de ser letrados em várias linguagens, em várias leituras. Por isso, é difícil, é um desafio muito grande, nas escolas em particular, os professores que se ocupam das bibliotecas têm perante si um imensíssimo desafio porque a facilidade associada, ilusoriamente, às tecnologias, leva a pensar que está tudo à distância de um clique, mas não. As pessoas têm destreza, mas não têm competência, não têm saber. Agora, não vale a pena pensar que se pode aprender hoje sem as tecnologias. Às vezes costumo dar um exemplo que é comezinho, até para os professores que têm um bocado de medo das tecnologias. Hoje, eu, que nem sequer sou uma pessoa muito letrada nas tecnologias, sou muito mais empática com os livros, se as minhas gatas adoecem eu vou logo à Internet ver e, no entanto, eu tenho uma prateleira cheia de livros sobre gatos. E depois até vou lá, mas é uma forma rápida e correcta. Temos de ter alguma bagagem para saber fazer isso. Então vou querer que os nossos filhos, netos, sobrinhos e alunos vão pegar numa enciclopédia, num livro sem interactividade? Não é possível, a interactividade está inscrita no código deles, dizem “eu acho que a tia não está a saber fazer isso” e eles vão lá instintivamente. É preciso ensinar-lhes que eles não podem ficar pobres. Tanto se pode ser info-excluído de uma maneira como de outra.

Para ler a entrevista na íntegra clique no link: http://www.livroseleituras.com/

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