Editoras apostam no aumento da criminalidade


A Primavera literária antecipa o domínio do policial nórdico que vai sentir-se fortemente na edição na recta final das vendas natalícias de 2010. Os autores e títulos disponíveis nas editoras escandinavas não deixam os editores nacionais de parte e cada um tenta garantir uma fatia deste mercado. É a continuação da moda literária que Stieg Larsson implantou e que elimina de vez a ideia que no Norte da Europa se vive num mundo de felicidade e segurança O sucesso do policial nórdico em Portugal é um mistério fácil de resolver. A resposta certa é: Millennium I, II e III, do sueco Stieg Larsson. Os três grossos volumes que o escritor entregou à sua editora antes de morrer - por via de um ataque cardíaco - recolocaram o género no noticiário literário e irradiaram por bastantes semanas qualquer entrada de um autor clássico nas tabelas de vendas. Mais, a continuada paternidade dos grandes autores de culto norte- -americanos, ingleses ou franceses era questionada por um violento fogacho que vinha de países onde só se pensava que havia louras altas e bêbados crónicos de fim-de-semana. Tudo o que se passava no mundo do livro de crime desaguava em Larsson e nas personagens que cativavam qualquer cidadão para a leitura de 2000 sedutoras páginas. Se em Portugal o negócio do policial pós-Stieg Larsson está a funcionar, nos países com mais expressão de vendas de livros ainda é melhor. Em França, Larsson ocupara os três primeiros lugares da tabela de venda durante muito tempo e até penetrara no mercado britânico contra a vontade dos editores que tentam manter acesa a chama dos seus vetustos e empoeirados autores como Arthur Conan Doyle e Agatha Christie, abrindo o caminho para a vaga de policial que, catalogam, "vem do frio". No nosso país, Stieg Larsson e a série Millennium provocaram um redireccionamento das apostas em livros para o sector policial quando as editoras se aperceberam de que a "criminalidade literária" gerava vendas tão boas como os volumes de auto-ajuda e o sempre prestigiado romance histórico. Nunca os autores deste género que vivem no Norte da Europa julgaram ser possível os leitores do resto do Velho Continente se interessarem tanto pelos seus escritos. Em Portugal sabia-se que existiam escritores na Escandinávia que se dedicavam ao policial, como Henning Mankel - que quase foi descontinuado -, mas desconhecia-se que o nosso mercado pudesse ser invadido por autores de nome impronunciável como está a acontecer (ver texto secundário) e que se justificasse a deslocação de outros para promoverem os livros (ler entrevista).Uma coisa é certa, pela ampla quantidade de títulos já comprados e com as traduções em curso, a rentrée literária vai centrar-se em muito no romance policial nórdico. A influência de Larsson é tão grande que a capa do último livro de Tiago Rebelo, O Homem Que Sonhava Ser Hitler, poderá confundir-se com o tão ansiado quarto volume da série Millennium, que as vozes do submundo editorial dizem que a sua companheira está a reescrever.

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