O novo filme de Clint Eastwood - J. Edgar


O novo Eastwood, um grande ausente dos Óscares, não há uma mistificação gloriosa como em “Invictus”, existe antes uma desmistificação inglória de uma figura controversa, mas demasiado opaca para nos aproximarmos dela.
Se não fosse John Edgar Hoover, ninguém entrava com ar apressado nas cenas de crime dos thrillers a gritar 'FBI', enquanto enxuta os policias locais. Não haveria Ficheiros Secretos, nem investigações policiais com recurso a escrupulosas análises científicas. Também não haveria escutas nem escândalos que dão biópicos controversos. O contributo de John Edgar Hoover, considerado por alguns o homem mais poderoso do planeta, para o cinema é mais do que muito. Só que ele não foi um herói, apenas um crápula, o crápula mais temido da América. Assim o pinta Clint Eastwood, que revela o ficheiro secreto da sua vida privada, num filme que passará ao lado da corrida aos Óscares, e que está nos antípodas de “Invictus”.
Mas este J. Edgar, 'inventor' da FBI, aparece como um vilão do lado dos bons, apenas um crápula, mas que nem por isso ganha algum encanto. É uma personagem medíocre, que se move por objectivos curtos, infeliz. Uma personagem desencantada e desmoralizada nos seus preceitos morais.
O filme de Eastwood adota assim uma postura semelhante à de Luc Moulet nalgumas curtas-metragens, em que faz panfletos turísticos, com o efeito contrario, que nos levam a não querer visitar a terra em questão. J Edgar é um filme sobre uma personagem que não nos fascina nem queremos conhecer. Mas claro, e talvez seja este o ponto mais importante, leva-nos a refletir sobre o poder oculto das secretas.

J. Edgar notabilizou-se ao deportar centenas de imigrantes com ligações a movimentos comunistas e anarquistas. Enquanto construi a FBI, com critérios de excelência e um investimento na ciência e formação, fez da perseguição aos emigrantes e aos negros uma obsessão. Terá tentado inclusive fazer com que Martin Luther King recusasse o Prémio Nobel. Abusando do poder, resistiu a oito presidentes americanos, que chantageava através dos seus arquivos secretos. Edgar foi um monstro que se criou.
O filme é longo e mastigado, mas tem aqueles momentos fortes de emoção que só Eastwood sabe fazer.
J. Edgar, de Clint Eastwood, com Leonardo DiCaprio, Armie Hammer, Judi Dench, Noami Watts, 137 min

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