Entrevista com Afonso Cruz
Afonso Cruz nasceu em 1971, na Figueira da Foz. Viajou por 60 países e começou a sua obra em 2008 com o primeiro romance "A Carne de Deus - Aventuras de Conrado Fortes e Lola Benites", sendo que logo no ano seguinte escreveu "Enciclopédia da Estória Universal" galardoado com o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco. Dois anos mais tarde publicou "Os Livros Que Devoraram o Meu Pai" (Caminho), vencedor do Prémio Literário Maria Rosa Colaço e ainda "A Contradição Humana"(Caminho - Prémio Autores SPA/RTP).
Em 2012, o autor foi distinguido com o Prémio da União Europeia para a Literatura pela obra " A Boneca de Kokoschka" (Quetzal) editado em 2010. No ano passado publicou "Jesus Cristo Bebia Cerveja" (Alfaguara) que foi considerado o Melhor Livro Português do Ano pela revista Time Out Lisboa e o Melhor Livro do Ano segundo os leitores do jornal "Público".
Biblioteca Municipal de Mondim de Basto - Como surgiu a sua paixão pela escrita?
BMMB - De todas as obras, há alguma que teve mais prazer em
escrever?
Em 2012, o autor foi distinguido com o Prémio da União Europeia para a Literatura pela obra " A Boneca de Kokoschka" (Quetzal) editado em 2010. No ano passado publicou "Jesus Cristo Bebia Cerveja" (Alfaguara) que foi considerado o Melhor Livro Português do Ano pela revista Time Out Lisboa e o Melhor Livro do Ano segundo os leitores do jornal "Público".
Os seus trabalhos mais recentes são "Enciclopédia da Estória Universal - Arquivos de Dresner" e "O Livro do Ano", ambos publicados pela Alfaguara. Desde Fevereiro do ano corrente publica uma crónica no Jornal de Letras, Artes e Ideias sob o título de Paralaxe. Afonso Cruz que além de escrever, é, também, ilustrador, realizador de filmes de animação, e membro da banda The Soaked Lamb.
Biblioteca Municipal de Mondim de Basto - Como surgiu a sua paixão pela escrita?
Afonso Cruz - Da leitura. Sempre gostei de ler e um dia, como a
Alice, passei para o outro lado do espelho.
BMMB - De onde vem a imaginação para os títulos dos livros e a
inspiração para o conteúdo dos mesmos?
A.C - De vários lugares: de situações que vivi, de coisas
que me contaram, de algo que li, de um pensamento, de um sonho, de viagens que
fiz. Em alguns livros a base é algo factual, como A Boneca de Kokoschka ou O
Pintor Debaixo do Lava-Loiças, outras é apenas uma ideia que pode ter origem em
várias fontes, como Os Livros Que Devoraram o Meu Pai ou Jesus Cristo Bebia
Cerveja.
BMMB - Venceu vários prémios quer como escritor quer como
ilustrador, entre os quais o Prémio da União Europeia de Literatura 2012. É o reconhecimento do seu valor?
AC. - Acredito que é um reconhecimento, que, naturalmente,
terá sempre alguma subjectividade envolvida. Mas, pelo menos para mim, os
prémios foram sempre muito importantes, uma maneira de chamar a atenção para os
meus livros, tanto nas livrarias, como nos media.
BMMB - Como foi a experiência na música, nomeadamente com os
"The Soaked Lamp". Fale-nos também da sua experiência como realizador.
A.C - A música é uma parte fundamental da minha vida e é
algo que tem características muito diferentes de tudo o resto que faço. Costumo
dizer que a música é uma arte para o corpo, que nos faz mexer (sendo a única
capaz de o fazer). As minhas piores ou melhores ilustrações não fazem ninguém
dançar. Evidentemente, as outras formas de expressão, como a literatura, por
exemplo, terão as suas próprias características, que estarão umas aquém, outras
além da música.
A realização é mais uma maneira de contar histórias,
de organizar algo para que possa ser fruído. Tem a vantagem de englobar, no
caso do cinema de animação, praticamente todas as artes. Num filme consigo ter
literatura (no texto), ilustração ou escultura (conforme é desenho animado ou
animação de volumes), fotografia (se usar imagem real), música (na banda
sonora), etc.
A.C - Não, são como filhos. Gosto de todos com a mesma
intensidade. Não da mesma maneira, mas com a mesma alma.
BMMB - Que opinião tem sobre a influência das redes sociais na
cultura?
A.C - Talvez ainda seja cedo para perceber todos os efeitos,
perniciosos ou não, que todas estas novas maneiras de estar nos proporcionam.
Não tenho medo nenhum, mas também não me deixo deslumbrar.
BMMB - Quais são os seus géneros literários favoritos e
autores?
A.C - Não tenho géneros favoritos, leio de tudo, desde
divulgação científica a poesia, desde policiais a ensaios. Gosto muito de ler,
por isso, claro, há vários autores que admiro muito, tais como: Rumi,
Kazantzakis, Dostoiévski, Thomas Mann, Bradbury, Pessoa, Borges, Erich Fromm,
Pavic, Saint-Exupéry, Chesterton.
BMMB - Que projetos para o futuro?
A.C - O costume: escrever (este ano publicarei pelo menos
mais dois livros, um ilustrado e um romance), ilustrar, tocar. Jantar com os
amigos, passear com os filhos.
BMMB - É a favor ou contra o Acordo Ortográfico?
A.C - Nunca ouvi um bom argumento contra, mas também não sei
o suficiente para avaliar as qualidades do Acordo. Por isso, por ignorância,
também não posso ser a favor. E, por preguiça, continuo a escrever à antiga.
BMMB - Deixe uma mensagem para todos os seus admiradores e
aspirantes a escrever uma obra.
A.C - Para os admiradores, uma profunda gratidão por, em vez
de andarem a ler os clássicos, perderem tempo comigo. Aos aspirantes a escrever
uma obra, penso que, se for uma vocação, os livros aparecerão, saltarão para
fora do corpo, tal como as lágrimas quando choramos.
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