Entrevista com Vicente Alves do Ó


Vicente Alves do Ó foi, recentemente, galardoado com o prémio para melhor realizador nos Prémios Sophia 213 (chamados os "óscares portugueses"). Com o grande desafio de "Florbela" o jovem realizador conseguiu arrecadar vários prémios nos Sophia 2013. Em Florbela, juntou Dalila Carmo, Ivo Canelas, Albano Jerónimo, entre outros atores bem conhecidos da televisão, cinema e teatro português.

Mas o caminho de Vicente Alves do Ó começou há muitos anos atrás e o realizador fala-nos de todo o seu percurso até ao prémio que serve para "premiar o mérito e saudar os nossos profissionais em casa".





Biblioteca Municipal de Mondim de Basto - Ser guionista e realizador era um sonho de criança?

Vicente Alves do Ó -  Ser realizador era um desejo de adolescente. Em criança quis ser muita coisa e todas elas impossíveis. Quis ser astronauta, o indiana jones, rei, aviador, poeta, eram sonhos uns atrás dos outros, como se a vida pudesse ser assim, cada dia uma vida diferente - talvez por isso me tenha agarrado ao cinema - como se cada filme e cada história fosse uma ideia de vida que nunca se vive.


BMMB - Como começou o teu percurso no mundo do cinema?

V.A.Ó -  Em 1999 enviei um argumento por correio para um produtor de cinema.  Eu vivia em Sines, no Alentejo, e decidi experimentar essa aventura lírica de viver o sonho americano - e resultou. O produtor António da Cunha Telles leu o argumento e 3 meses depois estava a viver em Lisboa e a trabalhar nos telefilmes e com o António-Pedro Vasconcelos.


BMMB - Antes de aparecer "Florbela" tens algum projeto que te tenha "apaixonado" mais que os outros?

V.A.Ó -  Vivo com muita paixão os meus projectos - quer sejam ou tenham sido realizados, quer ainda estejam na gaveta. Como muitos. Acho que a realização até nos liberta. Vivo talvez com mais carinho aqueles que ainda quero fazer e ainda não consegui.


BMMB - E como surgiu "Florbela" ?

V.A.Ó -   Como um acto de rebeldia. Percebi que era uma personagem mal-amada, mal compreendida, mal conhecida e decidi descobrir o que estava para lá da sua poesia. Descobrir a mulher, a portuguesa. Foi isso que me levou e me apaixonou ao ponto de querer fazer um filme sobre ela.


BMMB - Com "Florbela" venceste o prémio para melhor realizador nos Prémios Sophia 2013. É o reconhecimento do teu trabalho e da equipa?

V.A.Ó -  É um reconhecimento que me toca muito pois foi votado pelos meus pares. Sem dúvida, o melhor dos reconhecimentos para mim e para as perto de 50 pessoas que trabalharam neste filme.


BMMB - Sobre os Prémios Sophia, fazem falta estes galardões para o cinema português?

V.A.Ó -  Somo um país com um enorme déficit de reconhecimento. Adoramos ser galardoados e validados pelo estrangeiro, mas depois temos muita dificuldade em honrar os nossos, bater-lhes palmas, saudá-los, premiá-los.  Deve ser cultural, não sei. Parece que aqui dentro, não existimos ou quando existimos é só sobre a perspectiva do exterior. O que nos menoriza, não diante deles, mas entre nós. Eu gosto de ser saudado em casa. Depois até posso sê-lo na rua, mas em casa, junto dos meus, tem um sabor muito especial. Os Sophia têm essa característica pouco lusitana - premiar o mérito e saudar os nossos profissionais em casa. E isso é muito importante.


BMMB - "Florbela" também arrecadou o prémio  para melhor atriz com a Dalila Carmo, foi a escolha perfeita para o papel?

V.A.Ó -  Foi, claro. Estava decidida antes mesmo de escrever uma linha do argumento. Aprecio muito a Dalila e acreditava que ela era a escolha perfeita para o papel.


BMMB - E porquê o "Perdidamente Florbela" além do filme?

V.A.Ó -  A RTP entrou com mais algum dinheiro para a produção do filme com a contra-partida de fazermos a mini-série. Era irrecusável. Precisávamos desse dinheiro e a mim deu-me um prazer especial prolongar o projecto. Nunca sabemos quando voltamos a filmar, por isso, foi um belo presente.


BMMB - "Florbela" venceu nos Prémios Sophia, além dos referidos anteriormente, prémios para melhor atriz secundária, melhor fotografia, melhor som e melhor guarda-roupa, foi uma noite gratificante para todos os envolvidos mesmo que não tenham vencido o prémio para melhor filme.

V.A.Ó -  Foi uma noite muito feliz para todos, especialmente, para o cinema português e para os profissionais do cinema em Portugal. Acredito profundamente que o meio deve unir-se mais, não só quando as coisas correm mal, mas também, para festejar aquilo que faz o cinema: as pessoas. E foi e é uma festa das pessoas que muitas vezes não têm rosto, não vêm nos jornais, mas que são as responsáveis pela construção e materialização dos filmes.


BMMB - Para finalizar, fala-nos um pouco dos teus planos para o futuro e deixa uma mensagem para todos aqueles que sonham enveredar pelo mundo do cinema.

V.A.Ó -  O próximo filme está escrito e neste momento vou participar num workshop a nível europeu para onde foram escolhidos apenas 9 realizadores. Serei o único português e espero encontrar o financiamento que me falta nesta aventura europeia. O sonho do cinema é vasto, livre e deve ser perseguido com vontade, com força, com persistência. É uma vocação e exige muitos sacrifícios, mas quando chegamos lá, compensa tudo pelo que passámos. Por isso, toca a trabalhar, e a lutar. É a vida.

Um muitíssimo obrigado ao realizador Vicente Alves do Ó por se disponibilizar para esta entrevista. A Biblioteca Municipal de Mondim partilha o trailer de Florbela

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