Entrevista com Nuno Bernardo



Nuno Bernardo é o responsável pela empresa "beActive Media" que nos últimos dias viu uma das suas apostas "Beat Girl" nomeada para os Emmys 2014.

Além de "Beat Girl", a empresa é responsável por outros variados projetos sendo que esta não é a primeira nomeação para Emmys. Na carteira está um projeto promissor de seu nome "Collider" cujo trailer já circula pela internet.

O diretor e fundador da empresa aceitou o convite da Biblioteca Municipal de Mondim de Basto e respondeu a algumas questões.



 
 
 
 
Biblioteca Municipal de Mondim de Basto - Como é que surgiu a "beActive"?
 
Nuno Bernardo -  A ideia da beActive nasce no início dos anos 2000 com a proliferação dos serviços interactivos, das redes sociais, da banda larga dos telemóveis enquanto dispositivo de acesso a entretenimento. Estas alterações dos hábitos dos espectadores levaram à criação do Diário de Sofia, em 2003. Com o sucesso desta série exibida na RTP, a beActive especializou-se na produção de conteúdos multiplataforma, nos quais TV e Cinema se cruzam com os novos media. A maior parte dos projetos da beActive nasce nas redes digitais e aí conquistam os primeiros fãs.
 
BMMB - Depois da nomeação para os Emmys da série "Final Punishment", desta vez foi nomeada a série "Beat Girl", é o reconhecimento de enorme esforço e trabalho da companhia?
 
 N.B. - Esta nomeação (a segunda nomeação para um Emmy nos 10 anos de história da beActive) vem comprovar o know-how da empresa na produção de conteúdos infanto-juvenis. Desde o ultra-premiado Diário de Sofia, até ao T2 para 3 e Aisling's Diary (este produzido na Irlanda) vencedor de dois prémios Kidscreen Awards em Nova Iorque, que a beActive tem demonstrado que consegue entender os gostos de jovens e adolescentes, produzindo conteúdos que são ao mesmo tempo sucesso de audiências e vencedores de prémios e distinções atribuídos pela indústria a nível internacional.
 
BMMB - "Beat Girl" tem webepisodes, episódios de televisão e filme. O que distingue os três?
 
N.B. - O Beat Girl é composto por uma série Web de 15 episódios com 4 minutos de duração que introduz as personagens. Depois a história de Heather continua num programa de TV (5 episódios de 22’) e em Filme de 90 minutos para sala de cinema e DVD. O filme estreou em simultâneo em Portugal, Irlanda e Reino Unido e no serviço HULU nos E.U.A.. Aquilo que a beActive está a fazer de diferente é disponibilizar o filme, no mesmo dia, em cinema e nos serviços de Video on Demand. Tendo em conta o modelo multiplataforma do Beat Girl, o nosso retorno financeiro não se restringe a um media em particular, mas ao somatório de todas as receitas que incluem para além das bilheteiras, do serviço de VoD, as receitas de vendas do Livro e eBook, do jogo para plataformas móveis e do licenciamento do programa para TV. Desta forma, uma menor performance em cinema pode ser compensada pelas receitas geradas noutra plataforma.
 
BMMB - Já circulam pela internet teasers e trailers do filme "Collider", o que podemos esperar deste projecto?
 
N.B. - COLLIDER mistura o tradicional filme de ficção científica com muita acção, criaturas que atacam à primeira oportunidade e uma pitada de romance e drama. Em 2018, o planeta entra em colapso e a espécie humana é dizimada devido a uma sucessão de desastres naturais e ao surgimento de uma raça mutante apelidada de “Os Desconhecidos” (The Unknown). Peter, Alisha, Carlos, Fiona, Luke e Lucia são a última esperança da Humanidade. Os seis sobreviventes terão de unir esforços para conseguirem reactivar o COLLIDER e assim recuarem no tempo e evitar o apocalipse. Em menos de 24 horas, o portal do tempo irá fechar-se para sempre... A viagem será repleta de perigos, o ar exterior é irrespirável, “Os Desconhecidos” espreitam a cada esquina e as diferentes personalidades vão dificultar esta missão. COLLIDER mistura o tradicional filme de ficção científica com muita acção, criaturas que atacam à primeira oportunidade e uma pitada de romance e drama. O filme conta com a presença dos actores portugueses Marco Costa e Teresa Tavares nos papéis principais.
 
BMMB - Portugal ainda é um mundo fechado para projetos originais de cinema?
 
N.B. - Portugal produz muito pouco cinema (uma média de 12 filmes por ano, valor com tendência a diminuir) e esta parca oferta é limitada nos temas e abordagens. Existe uma tradição forte do cinema de autor, mas o cinema mais narrativo (a quem muitos chamam comercial) tem pouca expressão em Portugal, sendo normalmente ostracizado pela indústria e crítica especializada. Sem esse balanço entre cinema narrativo e cinema de autor, modelos de financiamento em linha com outras cinematografias europeias, é impossível criar uma indústria do cinema em Portugal. A juntar a tudo isso temos outras condicionantes que vão para além dimensão do país, o facto de que os portugueses normalmente não vão ver os seus filmes (a quota de filmes portugueses no Box Office nacional é das mais baixas da Europa), além de termos a mais baixa percentagem de idas ao cinema por habitante.
 
BMMB - Além de dos três projetos referenciados em cima, o que podemos destacar mais na "beActive"?
 
N.B. - A abordagem multiplataforma das histórias que a beActive conta são o seu grande diferenciador. A maior parte dos projetos da beActive nascem nas redes digitais e aí conquistam os primeiros fãs. É com esses fãs iniciais que vamos construindo e aperfeiçoando a história, lançando produtos complementares que expandem as personagens e a narrativa, desde livros a programas de TV, jogos ou filmes. O uso das redes sociais e da interactividade permite que as personagens das nossas histórias estejam mais próximas da audiência e por isso os espectadores estejam mais motivados a seguir os seus novos “amigos” para outras plataformas quando a história se expande. Os fãs fidelizados nas plataformas digitais seguiram as suas personagens favoritas nos diferentes meios.
 
BMMB - A "beActive" também aposta em livros das suas produções. É um complemento importante? 
 
N.B. - A beActive assume-se com uma empresa criadora e contadora de histórias e os seus projetos assentam em narrativas fortes. O formato “Livro” é por definição o meio ideal para estabelecer personagens e essas narrativas. Permite-nos definir melhor as personagens, o seu passado e a sua motivação e assim criar as bases e a história necessária para que esta depois possa viver, em diferentes formatos, em todas as outras plataformas.
 
BMMB - A "beActive" está receptiva a guiões?
 
N.B. - A beActive tem uma forma muito peculiar de criar e desenvolver projetos. Este tem que possuir determinadas características, temáticas e permitirem uma abordagem multiplataforma. Normalmente a ideia para uma série de TV ou um guião para um filme não nos permite desenvolver todo o conceito multiplataforma que criámos à volta das nossas histórias. Por isso, apesar de nunca fecharmos as portas a uma boa ideia ou uma proposta de criativos externos à empresa, a maior parte dos projetos da beActive são desenvolvidos no seio da própria empresa.
 
BMMB - Quais são os projetos em carteira da "beActive"? 
 
N.B. - Para além do Beat Girl, que está a ser adaptado pela ELECTUS (The Office US, Ugly Betty, The Biggest Looser) enquanto remake para o mercado norte-americano, a beActive está a lançar o seu primeiro projeto de ficção científica, o COLLIDER, que irá ter a sua estreia mundial já a 15 de Outubro em Londres, num evento paralelo ao Festival de Cinema de Londres, filme que conta com a presença dos actores nacionais Teresa Tavares e Marco Costa. Estamos ainda a lançar o Documentário "A Estrada da Revolução" que estreou recentemente no Festival Raindance em Londres e que estará disponível para os compradores internacionais no MIPCOM, mercado internacional da indústria da televisão, evento que se realiza em Cannes de 7 a 10 de Outubro.
 
BMMB - A "beActive" celebra o décimo aniversário, durante estes dez anos foi reunindo fãs e seguidores, deixe uma palavra para eles. 
 
N.B - A razão da nossa existência está diretamente ligado aos nossos fãs, leitores, espectadores, utilizadores, seguidores e todos aqueles que, independentemente do formato, seguem as nossas histórias e personagens. Só faz sentido continuar a contar essas histórias se alguém as estiver disposto a ouvir. Por isso o nosso muito obrigado às milhões de pessoas que em Portugal e à volta do mundo dispenderam um pouco do seu tempo, a ouvir as nossas histórias.
 

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