Entrevista a Madalena Nogueira dos Santos
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Fotografia: Sofia Romualdo |
Madalena
Nogueira do Santos, natural da Maia, nasceu em 1987. Frequentou o
Mestrado de Direito da Empresa e Negócios na Faculdade de Direito da
Universidade Católica do Porto e exerce advocacia. Simultaneamente
coordena a Biblioteca de Nogueira da Maia. Desde cedo começou a
escrever e com a saga "Terras de Corza" deu-se a conhecer
na literatura fantástica.
A tetralogia
"Terras de Corza" dividiu-se nos livros "O Décimo
Terceiro Poder", "A Coroa de Sangue", "As Tribos
do Sul" e "Os Doze Reinos".
Cada um dos
livros tem uma história individual e podem ser lidos de forma
independente, o que liga todas as histórias é que os enredos têm
sempre lugar nas "Terras de Corza".
Madalena Nogueira
dos Santos aceitou responder a algumas questões da Biblioteca
Municipal de Mondim de Basto, que, com agrado, publicamos hoje.
B.M.M.B -
Conta-nos sobre a tua iniciação na escrita.
Madalena
Nogueira dos Santos - Desde que me lembro, sempre precisei
de transpor as minhas histórias para o papel. Primeiro através do
desenho, depois a banda desenhada, o salto para a prova deu-se com o
empurrão do gosto pela leitura. A ambição de controlar o enredo,
fazer o leitor crer que se desenrolará de certo modo e, no final, o
desenlace é outro, e um misterioso e pouco justificável gozo
pessoal em tramar a vida das personagens lançaram-me ao desafio de
escrever. Não mais parei.
B.M.M.B
- Fala-nos das tuas obras, da saga "Terras de Corza".
M.N.S - Depois
de algumas experiências que nunca saíram da gaveta, a saga Terras
de Corza é o maior projecto que abracei e que me ocupou sete anos –
a meio desse percurso, a publicação surgiu mais ou menos por
acidente. Trata-se de um conjunto de quatro livros apelidados de
romances histórico-fantásticos, porque, por um lado, estão
baseados em diferentes épocas históricas verídicas (por esta
ordem, Idade Média, decadência do Absolutismo, início da
Industrialização e, no regresso às origens, uma época pré-romana
com inspiração na lendária Monarquia de Roma), por outro, os
espaços, as personagens e as tramas são ficção. Ao contrário do
que se poderia prever, não contém elementos sobrenaturais nem
qualquer insinuação de magia; diga-se que tudo o que acontece
poderia ter acontecido na nossa realidade, se diversos factores se
tivessem reunido no nosso passado.
São
histórias de glória e honra, valores superiores e paixões
inflamadas. As maquinações surgem ao virar da esquina e os
protagonistas tanto podem ser fabulosos heróis como seres humanos
frágeis a necessitar das amizades certas.
Entretanto
(2012), também publiquei um conto de ficção científica na
Antologia de Contos de Ficção Científica Fantasporto. Não me
considero autora desse género, no entanto, foi uma experiência
interessantíssima e a minha primeira publicação no Brasil.
B.M.M.B - Para quando está previsto o teu próximo trabalho?
M.N.S - Eventualmente para o final deste ano ou em 2014.
B.M.M.B - Qual é o tipo de escrita que mais aprecias?
M.N.S - Os meus gostos são bastante eclécticos. É verdade que tenho um gosto especial pela Fantasia, porém, no que concerne a subgéneros em high fantasy só Tolkien me conseguiu fascinar. Ou seja, aprecio a faceta realista nos livros de fantasia. Daí gostar muito de realismo mágico (Umberto Eco, Gabriel García Marquez) e ter uma adoração por clássicos da literatura. A tendência é para cenários do passado, se bem que de vez em quando a paisagem contemporânea consegue atrair-me.
B.M.M.B - Quais são as tuas influências na escrita?
M.N.S - A literatura está em destacado primeiro lugar, sendo de nomear várias obras de Umberto Eco, Gabriel García Marquez e Italo Calvino. Outros autores como Agustina Bessa Luís e Marion Zimmer Bradley ou J.R.R. Tolkien, George R.R. Martin, Philip Pullman e Sir Arthur Conan Doyle foram importantes em várias fases de vida e de escrita. Uma vénia dirigida também a Leo Tolstoi e Jules Verne. Não quero alongar-me quanto a autores de não-ficção, mas como também eles são cruciais na construção de uma história e nas reflexões subjacentes, refiro brevemente Nicolau Maquiavel.
Para
a criação de personagens, enfim, o dia-a-dia é uma fonte de
inspiração. Seja junto dos amigos e familiares, seja na rua, seja
no exercício do voluntariado, onde encontro pessoas tão diferentes
(que de outro modo não conheceria). Consciente ou inconscientemente
vou aprendendo como o carácter de cada um age perante situações
extremas ou intrigantes. A adicionar a isso há a vida nos tribunais,
enquanto Advogada.
B.M.M.B - És a favor ou contra o Acordo Ortográfico?
M.N.S - Não divulguei a minha posição sobre o assunto de forma esclarecida até agora. No entanto, já deixei claro, por muitas vezes, que não entendo grande parte das novas regras e a razão para tão grande impacto nos vestígios linguísticos-históricos-tradicionais que as nossas palavras envergam. A par disso, estou absolutamente desgostosa com o processo de implementação; se é um acordo entre vários países, porque uns não aceitam, outros adiam constantemente e aqueloutros (nós) temos logo de engolir as mudanças sem uma devida e criteriosa consulta dos estudiosos e entendidos? Alegrou-me a posição da SPA, divulgada no início do ano. Espero que tenha o impacto que mais aspiro.
B.M.M.B - Como se sente alguém que em tão tenra idade já é uma aposta da Leya?
M.N.S - Orgulhosa e, mais do que isso, com uma responsabilidade séria a pesar nos ombros – o que me dá um alento extraordinário para me esmerar. Também afortunada, pois, sendo autora da ASA, tenho a oportunidade de visitar cidades, vilas e aldeias por todo o país, com o propósito de divulgar os livros e, clandestinamente, de arrecadar mais inspirações para os próximos projetos!
B.M.M.B - O que pensas do tratamento dado aos escritores portugueses no nosso país?
M.N.S - Aqueles que, de algum modo, são rostos conhecidos, são recebidos de braços abertos, independentemente da originalidade e do seu empenho no livro publicado (note-se que há também em Portugal a figura do ghost writer). Os que não são conhecidos, esses, precisam de batalhar de forma redobrada. Há muita desconfiança, mas consegue-se conquistar. A meu ver, a meio dos anos 2000, estávamos a viver uma altura em que os leitores portugueses apostavam em nomes conterrâneos mesmo sem os conhecer. Mas com a atual contenção de custos – que fere em especial a cultura – a ousadia dos mesmos retraiu-se a olhos vistos.
B.M.M.B - No mundo atual qual é, para ti, o papel das Bibliotecas Municipais?
M.N.S - Acima de tudo, o reduto da leitura, da pesquisa e da reflexão. A Biblioteca Municipal permite o acesso a obras que, seja por falta de dinheiro seja porque não se pretende consultar a obra por inteiro, não chegariam às mãos do leitor. É uma sala de visitas ideal para pensar, falar, ler, ouvir. E, a longo prazo, eventualmente um tesouro de preciosidades – isto dependendo do sucesso dos livros digitais, que ainda não chegou verdadeiramente à Europa.
B.M.M.B - Gostarias de ver a tua saga adaptada ao cinema?
M.N.S - Seria claramente um desafio entusiasmante traduzir as minhas histórias em guião cinematográfico. A pequeno experiência teatral que tenho vindo a realizar nos lançamentos dos livros fez-me concluir que aprecio a encarnação das minhas personagens ao vivo. A somar a esse sentimento positivo, permitam-me a parcialidade ao dizer que a saga Terras de Corza tem todos os condimentos para filmes épicos ou mesmo curta-metragens sobre os mais variados temas.
A Biblioteca Municipal de Mondim de Basto agradece a disponibilidade da autora.
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