Rosa Lobato Faria - uma vida multifacetada


Rosa Lobato Faria morreu na terça-feira num hospital de Lisboa, uma semana depois de ter sido internada com uma anemia grave. Tinha 77 anos e a saúde fragilizada desde que, seis meses antes, uma infecção intestinal a obrigara a submeter-se a uma cirurgia. Lançando o olhar sobre a sua vida, sobressai uma presença, constante e multifacetada. Começou a divulgar poesia na RTP, durante os anos 60, em colaboração com David Mourão-Ferreira, e integrou o elenco da primeira telenovela portuguesa, Vila Faia. Foi letrista com lugar reservado na história do Festival da Canção, com Amor de Água Fresca, cantado por Dina, ou Chamar a Música, por Sara Tavares, e uma escritora que, poeta há muito, chegou tarde ao romance. Aos 62 anos, com O Pranto de Lucífer, publicado em 1995. Chegou a tempo: dez romances e um deles, O Prenúncio das Águas, distinguido em 2000 com o Prémio Máxima da Literatura. Rosa Lobato Faria dizia que toda a poesia e literatura que escreveu partiu do Alentejo das suas férias de infância - daquela paisagem, dos cantares das pessoas, da força da tradição que ali pressentia. Também nisso era múltipla: mulher moderna e cosmopolita, mas que nunca escondeu um imenso fascínio pela cultura popular. São dela as letras dos genéricos de Casino Royale, Crime na Pensão Estrelinha e Humor de Perdição. No momento da sua morte, recordamo-la pelas letras das canções que escreveu, pela presença na televisão e no cinema, pelo teatro e pela poesia compilada em volumes como Os Deuses de Pedra (1983). Recordamo-la também, obviamente, como romancista. O seu último livro, As Esquinas do Tempo, foi publicado em 2008. A sua obra, como refere em comunicado a Porto Editora, "está traduzida em Espanha, França e Alemanha e representada em várias colectâneas de contos, em Portugal e no estrangeiro". Rosa Lobato Faria cumpriu o seu sonho.

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