Entrevista com Joel Neto

Joel Neto, escritor e cronista português, aceitou o desafiou da Biblioteca Municipal e responde a algumas perguntas sobre o seu caminho literário. 

Biblioteca Municipal de Mondim de Basto - És referência no jornalismo e crónica desportiva e venceste os prémios Gazeta de  Reportagem e José Roquette. De repórter, cronista, apresentador e  comentador como chegaste aos livros?

Joel Neto - Foi mais ao contrário, penso. Os jornais foram sempre, e sobretudo. a maneira de sponsorizar os livros. Acontece que, a certa altura, me apaixonei por aquilo, por aquela vertigem e também por pertencer àquela tribo. Demorou a sair.

BMMB - O que sentiste quando o teu primeiro livro foi recomendado pelo  Plano Nacional de Leitura de Açores e objeto de estudo no Brasil?

J.N. - Vaidade. Infelizmente, foi só isso mesmo: vaidade.

BMMB - Depois de "O Terceiro Servo" surgiu o segundo livro "O Citröen Que Escrevia Novelas Mexicanas" e que foi adotado como leitura obrigatória pela Universidade dos Açores. Sentiste uma evolução do primeiro trabalho (2000) para o segundo? (2002)

J.N. - Penso que cresci como escritor. Mas, em todo o caso, olho hoje com alguma condescendência para os meus primeiros livros. Às vezes com vergonha.

BMMB - Foste autor de uma biografia com um dos portugueses de mais sucesso  e mais conhecidos a nível mundial: José Mourinho. Foi uma decisão tua  fazer este projeto ou foste desafiado por alguém?

J.N. - Escrevi um grande perfil de José Mourinho na “Grande Reportagem”, o maior texto publicado pela revista até então, e depois o meu editor propôs-se editá-lo em livro. Foi só isso: jornalismo. Nunca pensei em “escrever um livro” sobre Mourinho.

BMMB - Voltaste aos romances em 2012, porquê uma pausa na ficção durante dez anos?

J.N. - Olha, hoje não sei. Ou não me parece plausível. Pelo meio, aconteceu vida: nascimentos, mortes, divórcios – o costume. Mas talvez se tenha tratado, sobretudo, de algum tipo de sabedoria cósmica. Eu precisava parar e amadurecer. E parei, mas que por razões exógenas e circunstanciais.

BMMB - É complicado ser autor em Portugal?

J.N. - Cada um há-de ter a sua própria resposta. Eu acho que é fácil publicar em Portugal. Ou era. Mas é extremamente difícil complicado viver dos livros. Depende da perspectiva, portanto. Para mim, neste momento, é portanto extremamente complicado. Eu quero viver só dos livros.

BMMB - Fala-nos do teu livro mais recente "Os Sítios Sem Resposta".

J.N. - É um livro sobre a memória. Sobre a relação pai/filho. Sobre o futebol e outros espaços onde essa memória se vive. Penso que é o meu primeiro livro da idade adulta. O o último da adolescência.

BMMB - Qual é a tua opinião sobre o acordo ortográfico?

J.N. - É uma merda. Com as letras todas. No limite, dêem-me cabo do Português de Portugal, mas não do Português do Brasil. “Fato” não é o mesmo que “facto”, “seqüência” é diferente de “sequência” e “assembléia” está longe de ter o mesmo significado que “assembleia”. Uns levam-me de volta à doce modorra de uma tarde na Bahia, os outros devolvem-me à magia de um dia de chuva no Gerês. E a questão é que eu preciso desse movimento. Preciso desse movimento como cidadão que só está bem onde não está, que é o que somos todos aqueles que escrevem e que lêem – e preciso desse movimento como estivador (não encontrei metáfora melhor) da escrita.

BMMB - Planos para o futuro?

J.N. - Acabar o romance que tenho entre mãos. Meti-me numa aventura demasiado grande para a minha sofrida rotina. Mais um ano de trabalho e acontece. Acho que acontece.

BMMB - Deixe uma mensagem para os fãs e para todos aqueles que sonham iniciar um caminho literário.

J.N. - Se nós conseguimos, malta, vocês também conseguem. É que conseguem mesmo.


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