Entrevista com Bruno Pereira



Florbela Espanca, a poetisa preferida de Bruno Pereira



Conforme havia ficado prometido, aqui fica a entrevista com o jovem talentoso escritor de Mondim de Basto, Bruno Pereira.

Fala-me um bocado de ti, como pessoa e, obviamente, como escritor?

Tenho 25 anos e trabalho como assistente administrativo na Câmara Municipal de Mondim de Basto, ao mesmo tempo frequento o primeiro ano do curso Ciências da Comunicação na Universidade de Trás-Os-Montes e Alto Douro. Sou um apaixonado pela escrita desde a infância, sempre gostei de criar mundos, sendo que mais tarde brotou a paixão pela poesia. Sou uma pessoa normal que gosta estar com os amigos no café, mas muito envolvido nos meus projectos e naquilo que me propõem no campo da literatura.

Quando sentiste a necessidade de colocares no papel o que te ia na alma?

Há duas fases distintas. A parte da literatura fantástica nem sei porque surgiu. Quando era mais novo, entre os estudos de português e história lá me iam surgindo ideias. Por exemplo, quando estudava história e lia nomes de locais inventava uma história que tinha dado esse nome ao local. Depois comecei a ler fantasia e fui me apaixonado e querendo escrever. Com a Poesia, foi diferente. Surgiu mais tarde e começou por ser algo um pouco ridículo, o estilo de escrita era muito romântica e apenas base da inspiração. Agora, com o amadurecimento normal, as coisas não são tão cor-de-rosa. Todavia, há muito mais trabalho por detrás dos poemas. E se falamos de poemas de amor, quando são poemas sofridos são melhores…principalmente quem escreve este estilo de poesia de certeza que percebe o que eu quero dizer. É muito complicado para mim escrever poesia quando estou contente, não consigo ser o “fingidor”.

Onde vais buscar muito da tua inspiração?

Falando de poesia, na dor, na perda, no amor. Cada um dos poemas tem a sua história. Quanto a narrativas, nem sei, as coisas simplesmente saem…claro que há diversos livros lidos, muitas histórias vistas, mas perguntam-me se leio os nomes das minhas personagens em algum lado e eu digo que não, claro que há algumas que já existem, mas tento dar sempre um pouco de originalidade aos textos.

Que tipo de género literário preferes? Poesia?

O meu género favorito quer para ler quer para escrever é literatura fantástica. Uma amiga minha disse-me que escrever fantasia tem algo de “fácil”, o que é errado, porque é tudo menos fácil escrever literatura fantástica, mas mais digo, ainda mais complicado é escrever boa poesia e fazer diferença com a mesma no mercado de hoje. De qualquer maneira a poesia é algo marcante, não me vejo a viver sem ela, e admiro muito Fernando Pessoa, Camões e Florbela Espanca.

Sei também que tens uma obra sobre literatura fantástica em papel? Para quando uma edição?

Neste momento estou à espera de uma resposta de uma editora. Em princípio estará tudo bem e sairá este ano mas não sei dar nenhuma data certa até porque não está confirmado. De qualquer maneira se avançar será o primeiro volume de três. É uma trilogia de literatura fantástica.

Fala-me agora deste novo projecto em que estás envolvido, a Alterwords. Porque nasceu este projecto?

A necessidade de autores desconhecidos mostrarem ao público do que são capazes. O mercado literário está cada vez mais complicado. Por exemplo, editar um livro de poesia envolve, quase sempre, gastos elevados. É lamentável que obras de poesia, não falando de mim mas de gente que conheço, gente amiga, sangue novo, como Carla Ribeiro e Susana Catalão que são do distrito, terem tanta capacidade e tanto para dar, e não terem oportunidade para isso. Além das duas acima referidas ainda fazem parte dos autores residentes Daniela Pereira, Liliana Duarte, Liliana Lopes, Miguel Pereira ou Susana Machado, todos com grande capacidade de escrita.
A AlterWords é assim uma revista online de distribuição mensal, completamente sem gastos e com recepção absoluta a participações exteriores. Porque, nós, autores, não devemos depender das editoras, as editoras é que devem depender de nós.

Como percebi, não sendo um projecto somente teu, mas também de outros teus amigos que demonstraram uma enorme paixão pelas letras, o que esperam atingir com ele?

Esperamos chegar a muitas portas. Não pretendemos ganhar nada. Apenas poder mostrar aquilo que podemos fazer.

Tens mais alguma obra no prelo?

Tenho uma obra de poesia à procura de entidades patrocinadoras. Depois, além da trilogia prevista, ainda tenho uma nova história de fantasia que ainda estou a iniciar mas cujas ideias já vêm desde há três anos atrás, e uma história de literatura fantástica em conjunto com a Carla Ribeiro no site www.osfilhosderaven.blogspot.com e uma do mesmo estilo com Susana Catalão que será exibida no blog www.arkconvenant.blogspot.com mas que ainda não começou. Quanto aos “Filhos de Raven” já tem muito para ler e estão convidados a dar lá um salto.

Sabendo da dificuldade que existe em arranjar uma editora que apoie jovens escritores, como pensas poder ultrapassar estas reais limitações num país tão pouco virado para as letras, e ainda mais para os jovens escritores?

A “AlterWords” surgiu mesmo para isso. Para dar voz a quem não é ouvido. Por mais que eu respeite muitos autores portugueses já muito conceituados, não há porque não apostar nos mais jovens também.

Sei que concorreste para um concurso no Brasil para jovens poetas. Conta-nos como soubeste da sua existência e qual a sua importância no meio literário brasileiro?

O concurso foi-me revelado pela Carla Ribeiro, e desde aí tenho participado sempre. Fazem uns três por ano e tenho tido boas classificações. O concurso tem a sua importância até porque é a nível internacional. Claro que as boas classificações não me iludem, penso que os portugueses e os brasileiros são muito diferentes na análise e na preferência de poesia.

Por falar no Brasil, és a favor do Acordo Ortográfico? Será que não irá descaracterizar a essência da nossa língua? O que pensas disto?

Absolutamente contra. Aliás, quem ler o meu editorial da última AlterWords percebe a minha posição. Poderia dizer que a revista vai ser sempre contra o acordo mas não vamos barrar participações exteriores só porque…respeitam as regras. Mas, sim, não sou nenhum velho do Restelo, porém, penso que vai descaracterizar a essência da nossa língua.

Quais os teus projectos futuros?

Acabar a Universidade é o meu grande projecto. Continuar a trabalhar para que a AlterWords possa, de facto, fazer a diferença e conseguir “fazer nascer” tudo o que tenho guardado. Extra literatura tenho trabalhado com teatro e cinema mas ainda não há nada de concreto.

Quais as tuas expectativas em relação à nova Biblioteca Municipal de Mondim de Basto, que será inaugurada ainda este ano?

São muitas. É algo que é necessário e ainda bem que está prestes a tornar-se realidade. Para mim será um apoio de trabalho excelente.

De que forma achas que, sendo tu de Mondim, poderias colaborar com ela, de forma a aumentar os níveis de literacia no nosso concelho?

Eu estou disponível a ajudar no que puder para dignificar e publicitar a literatura. O afastamento da literatura é algo a combater não só em Mondim, mas como em todo o lado. Deixo aqui o apelo que a Susana Catalão fez aquando da apresentação do livro “Dualidades” em Santa Marta de Penaguião (escrito por ela e pela Carla Ribeiro), os jovens devem ler, os jovens devem escrever, há algo de mágico nisto tudo que só quando nos envolvemos é que nos apercebemos. E é isso que faz com que a gente não desista.

Muito obrigado Bruno Pereira.

Comentários

Carla Ribeiro disse…
Pertinente e esclarecedora, aí está uma entrevista que diz muito sobre o estado actual da escrita e dos escritores. Bela iniciativa!

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